Brasil: Consulta pública reforça rejeição ao “Novo Bacharelado”.  O governo apoia as mudanças
LarLar > blog > Brasil: Consulta pública reforça rejeição ao “Novo Bacharelado”. O governo apoia as mudanças

Brasil: Consulta pública reforça rejeição ao “Novo Bacharelado”. O governo apoia as mudanças

Mar 13, 2024

Este post também está disponível em: Espanhol, Português

Em 2017, no governo do ex-presidente Michel Temer, o Brasil aprovou uma polêmica reforma do ensino secundário, considerada pelos especialistas como antirreforma porque reproduz um modelo anacrônico, excludente e perverso. Diante das críticas, o governo Lula suspendeu temporariamente os prazos de implantação do Novo Ensino Médio (NEM) e abriu consulta pública para ouvir a opinião da sociedade.

A consulta para avaliar e reestruturar a Política Nacional do Ensino Secundário decorreu entre 8 de março e 6 de julho. A plataforma Participa+Brasil recebeu 11.024 contribuições e uma pesquisa por WhatsApp da comunidade escolar ouvida 139.159 pessoas, entre estudantes, jovens que não se identificaram como alunos, professores e gestores.

Ocorreram também 12 webinars com especialistas, cinco seminários organizados pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), audiências públicas com entidades ligadas ao setor e encontros com estudantes.

Os resultados da consulta pública foram compilados em Sumário Executivo e apresentados pelo ministro da Educação, Camilo Santana, no início de agosto, juntamente com a proposta do Ministério da Educação (MEC), que servirá de base para as alterações legais para ser enviado ao Congresso.

O MEC agrupou as contribuições para a consulta pública em 12 clusters. Em relação à equidade educacional, aos direitos humanos e à participação democrática dos estudantes, a maioria afirmou que o NEM impactou negativamente no direito à educação no país e afirmou a necessidade de diretrizes específicas para populações rurais, quilombolas, indígenas, ribeirinhas, deficientes e jovens de baixa renda.

Foram massivas as críticas à redução da carga letiva do Ensino Básico Geral (EGB) de 2.400 horas letivas para 1.800 horas, reservando 1.200 horas para conteúdos optativos distribuídos em cinco percursos educativos (Ciências Naturais e suas tecnologias, Linguagens e suas tecnologias, Humanismo Aplicado e Ciências Sociais, Matemática e suas tecnologias, e Formação Técnica e Profissional).

A proposta do Governo é restabelecer a carga atribuída ao FGB em 2.400 horas, com exceção da oferta de cursos técnicos, para os quais seria fixado um mínimo de 2.200 horas. O MEC sugere que a composição do FGB inclua espanhol (em alternativa ao inglês), arte, educação física, literatura, história, sociologia, filosofia, geografia, química, física, biologia e educação digital.

A Lei nº 13.415/2017, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e instituiu o Novo Ensino Médio, estabelece que apenas duas disciplinas são obrigatórias nos três anos do curso: Matemática e Português. As demais disciplinas elencadas no Currículo Nacional Comum (BNCC) estão distribuídas entre os cinco percursos educativos.

O aluno que opta pelo curso de Ciências Naturais e suas Tecnologias, por exemplo, estuda química, física e biologia. O ensino de geografia e história, neste caso, não é obrigatório. Da mesma forma, os alunos que escolhem as línguas e as suas tecnologias não são obrigados a estudar química, física e biologia.

Como o NEM estipula que 40% das aulas devem ser destinadas a disciplinas optativas, muitas escolas acabam oferecendo disciplinas inusitadas para complementar a carga horária, como empreendedorismo, culinária, oratória e liderança. Isso provocou críticas generalizadas da comunidade escolar, inclusive dos estudantes, que encaminharam uma nota técnica ao presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira, descrevendo os problemas da política.

Outra proposta do MEC é reduzir o número de roteiros de formação de cinco para três, que passariam a ser denominados roteiros de aprofundamento e integração de estudos. Apenas Letras, Matemática e Ciências Naturais; Letras, Matemática e Ciências Humanistas e Sociais; e a Formação Técnica e Profissional permaneceria. A utilização do ensino a distância no FGB, também fortemente criticada na consulta pública, seria proibida, sendo limitada a 20% no caso do Ensino Técnico Profissional, a título excepcional em situações específicas.